MEL
Na sala éramos apenas eu e ela.
Ela me fitava com precisão, como se enxergasse em mim todos os sinais que vão
muito além da visão. Por vezes piscava lentamente e depois piscava de novo e de
novo, e de tanto piscar, com as pálpebras pesadas, acabou caindo no sono. Mas
ao menor movimento ela acordou, arregalou os olhos, suspendeu a cabeça com as
orelhas de pé e voltou a me fitar como se dissesse, com seus enormes olhos cor
de mel, saber muito sobre mim, como quem conhecesse muito mais do mundo do que
permitiam seus 18 meses de vida. Eu, analisando-a minuciosamente, me
perguntava: quem sabe mais? Ela também me olhava, mas não se perguntava nada,
porque não precisa de indícios, provas ou respostas.
retrato da Mel - Leonardo Etero |
Fernanda Tinoco Ramos
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